sexta-feira, 18 de abril de 2014

Capítulo 1

Mais um dia na favela da Rocinha... não era justo eu estar aqui, mas o dinheiro da recompensa fez parecer justo. Já faz quinze dias que estou de tocai em uma casa de madeira em uma dessas vielas fétidas. Dizem que esse lugar melhorou? É porque não estão aqui tanto tempo quanto eu, nem tanto tempo quanto as famílias que moram aqui. Mas elas parecem gostar, alias não fazem nada pra mudar essa situação. Carlos Teixeira já vai pro seu terceiro mandado como prefeito do Rio de Janeiro e é um dos piores pilantras que eu já conheci... mas, pelo menos é bom de cama.
– Colt? – Sempre que eu ouvia essa voz, minhas pernas tremiam. Não porque o Capitão Borges era um negro de uns 2 metros de altura, com uma cicatriz na bochecha esquerda, com um corpo de fisiculturista, que usava uma farda preta que tinha mais cheiro de sangue do que a roupa da própria morte, não, não era por isso...
– Borges.
– Seu alvo vai sair da toca essa noite – ele se aproximou mas do que o necessário, tive que olhar para cima para continuar a encará-lo, meu pai sempre dizia para encarar as pessoas – Não faça sujeira aqui, estamos entendidos? – me transmitiu a informação, virou-se e saiu. Minhas pernas ainda tremiam.
Modesta a parte, eu sempre faço o meu trabalho bem feito, mas um aviso do Borges, bem, é sempre bom de se ouvir.
Coloquei as poucas coisas de que precisava pra sair dali o mais rápido possível, pus meu colete Hipist sobre medida, coturnos ok, medalha de São Possenti, ok, amor da mamãe, vulgo Enfield L42, ok! Adeus Rocinha! E juro que farei igual a Carlota Joaquina quando chegar ao aeroporto.
Comecei a me esgueirar na noite. Os moradores quando me viam vindo, entravam em suas casas, tá ai, gosto de pessoas espertas!
Era uma noite sem lua ou estrelas, apenas nuvens carregadas, eu precisava ser rápida. Meu telefone toca, mas não é o comum...
– Qual é o problema Jack? – Ah! Eu esqueci de dizer, Jack era um japa que eu trouxe comigo, ele é bom em derrubar sistemas de seguranças e a mansão do meu alvo, era repleto deles, mas infelizmente eu não entendia muito bem o que ele falava, ainda bem que ele me entendia, isso era o que importava.
Pelo o que eu decodifiquei da ligação, estava tudo limpo, pronto pra eu entrar, e bem, se não estivesse, minhas duas macaquinhas nunca saim da minha cintura mesmo.
Meia-noite, o baile começou, e quem está fazendo a proteção do local? Um bando de PMs de merda. Não gosto de matar mais do que o necessário, aliás mais corpos é mais atenção, menos munição, sem remuneração, esse é meu lema! Mas o problema não era os PMs fazendo a ronda do baile, o problema era porque eles estavam fazendo isso, Heitor Veloso dos Santos Barbosa ou Caquinho. Era o novo chefe do tráfico por ali e sim, ainda tem tráfico na Rocinha, ele na verdade nunca saiu, mas isso não é problema meu, mas gente ruim, mais dindin pra mim. Porém meu foco não era o baile, era o casarão atrás dele, pra ser mais exata, meu foco estava no segundo andar terceira porta a direita.
– Sabe qual é a porra do problema Verônica, caso seja esse mesmo o seu nome, você é muito previsível – Quatro homens extremamente armados até os dentes, pera, aquilo nas costas do segundo é um lança granada? – Mas nós te pegamos, você e o seu ratinho chinês – Jogaram Jack morto, repleto de ferimentos e sem os dois dedos da mão esquerda à minha frente, acho que quando ele me ligou não quis dizer que era pra eu subir.
– Você sobe o meu morro, sem a minha permissão e acha que vai ficar assim mermo sua vadia? – O quinto homem era Caquinho, sua única arma era uma Taurus 44 banhada a ouro, alias, ele era um varal para ouro, tinha até nos dentes, literalmente dessa vez – Mas num tem problema não, porque vou encher tua boca de formiga, assim como eu fiz com o china, acho até que vou fazer uma homenage pa ele, vou escrever na lapide “China! Queria cane, queso e flango” – ele e seus capangas começaram a rir enquanto eu planejava como ia sair dali, precisava ganhar tempo.
– Olha só, quer dizer que você sabe escrever? – O primeiro homem tinha o segundo braço fraturado, era recente, começaria por ele, usaria ele como escudo enquanto com a sua barreta matava o cara três que tinha miopia e era o único sem colete – Porque na atual situação do Brasil, você um menino que tem uma história tão sofrida, que veio de tão de baixo ne?! – o segundo cara era gordo e lento, deixaria ele por último quando eu corresse na direção de Caquinho, um segundo antes do grandalhão engatilhar a escopeta e um segundo depois de fincar minha Bowie na carótida de Caquinho.
– Sua Puta! Ta me tirando? Senta o ferro nela!
Levei cinco minutos a mais que o planejado, o homem três tinha astigmatismo, doença errada, droga! Mas, pelo menos não gastei minha munição, contudo, de brinde acho que o gordão conseguiu fraturar uma das minhas costelas flutuantes.
Caquinho ainda estrebuchava no chão, precisei de dois golpes com a faca, para abatê-lo de verdade. Idiotamente ele tentava estancar o sangramento com as mão. Eu precisava ir, mas não podia deixar de lhe explicar uma coisa:
– Seu nome era Jack e ele era japonês, otário.
1:45h da manhã, estava ficando sem tempo. Mesmo com a costela fudida, tive que entrar na casa pela janela da cozinha. O sistema de segurança havia sido desligado, pelo menos Jack havia feito o seu trabalho. Mas estava fácil demais, silencioso demais e vazio demais, cheguei no segundo andar sem nenhum empecilho.
Adentrei no quarto do meu alvo, ela estava dormindo. Seu pijama de coelhinhos, maria-chiquinhas loiras e abraçando um minion. Seu nome era Samanta, tinha 7 anos e sua vida custava meio milhão de reais.
Coloquei o silenciador na minha 22. O dinheiro e a passagem de avião, me esperavam as 2:30h na Praça XV.
– Eu não faria isso se fosse você – reconheci a voz de imediato.
– Boa noite Borges – sem exitar, puxei o gatilho.


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